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domingo, 17 de janeiro de 2010

O Pirata do Elba

Há histórias que nos marcam... Há contos que ouvimos em pequenos e que permanecem vivos ao longo das nossas vidas... É no dia-a-dia que os recordo porque fazem parte de mim e é a eles que devo quase tudo do que hoje sou. Não devíamos esquecer as histórias de criança, os contos que nos ensinam a partilhar, a ouvir os mais velhos, a respeitar o próximo, a ser feliz... Não devíamos esquecer os nossos sonhos de criança: a Cinderela que, contra tudo e todos, casa com o príncipe e vive feliz para sempre; o Robim dos Bosques que rouba aos ricos para dar aos pobres... E são estes os heróis que sonhamos vir a ser... Mas sem os poderes mágicos... Sonhamos poder mudar a vida de alguém e ser reconhecidos pelo nosso valor moral. São estes que sobressaem no meio do povo e permanecem vivos para sempre.
Uma das histórias que mais gosto é "O Pirata do Elba", não só porque ainda quero acreditar que no meio de tanto narcisismo existe sempre alguém que olhe por nós, mas também porque este conto retrata uma época bem longínqua e ao mesmo tempo tão contemporânea.

"Há uma rua de Hamburgo com o nome do burgomestre Simon von Utrecht, mas quase nenhum hamburgês sabe quem foi tal sujeito, nem por que é que merece ser recordado. A única coisa que sabem dele é que ordenou a execução de um homem que vive nas memórias dos irreverentes, em centenas de canções e narrativas que se contam na costa do Mar do Norte ou nos cálidos cafés de Weddel ou Blankenesse.
O homem – que esse sim, é recordado – chamou-se Klaus Störtebecker e era um pirata. O Pirata do Elba.
No ano de 1390, a Liga Hanseática impunha a ferro e fogo o seu domínio mercantil sobre o Atlântico Norte e o Mar Báltico. A Liga estabelecia impostos absurdos, fixava preços arbitrários aos artesãos e agricultores, e nos seus mil barcos os capitães hanseáticos utilizavam a força para castigar qualquer falta.
Mas, e como sempre aconteceu na História, um grupo de marítimos liderados por Klaus Störtebecker, um gigantão de rosto feroz e barba vermelha, disse que não, que bastava de impostos chicote e corda , depois de um motim, fizeram-se ao mar com um barco que começou a navegar sob a bandeira da liberdade.
Em 1392, na ilha de Gotland, os homens de Störtebecker ditaram a sua declaração de princípios a um sacerdote, que traduziu para latim as palavras pronunciadas em todos os dialectos que se falavam no Norte da Europa. Diziam elas que os homens são escolhidos por Deus para praticar a felicidade e que só a felicidade concedia a necessária vitalidade para suportar qualquer penúria.
A partir daquele momento começaram a chamar-se “Die Vitalienbrüder”, os Irmãos Vitais, e foram o flagelo da Liga Hanseática.
Abordavam os barcos carregados de bens e, interrogavam os marinheiros acerca dos castigos sofridos e muitos oficiais e capitães sentiram nas suas carnes os arranhões do gato de sete caudas ou o ar mesquinho que a forca permite.
O produto do saque era repartido, metade pela confraria e a outra metade pelas populações ribeirinhas do Elba ou das costas do Báltico. A chegada de Störtebecker e dos Vitalienbrüder era esperada como uma bênção pelos pobres de então.
Como era de esperar, a Liga Hanseática fixou o preço à cabeça do pirata, e dúzias de capitães alemães, suecos e dinamarqueses lançaram-se na sua captura.
Não depararam com uma tarefa fácil, porque Klaus Störtebecker conhecia todos os segredos do Elba e resistiu até já correr o ano de 1400.
Numa manhã de Primavera desse ano, toda a Hamburgo marcou encontro junto da “Teufelbrücke”, a Ponte do Diabo, para presenciar a execução do pirata e de uma centena dos seus camaradas.
Simon von Utrecht, o burgomestre, pronunciou a sentença com voz firme: morte por decapitação. O verdugo fez reluzir a espada e esperou a primeira vítima, que devia ser um marinheiro raso, visto que parte do castigo imposto a Störtebecker era assistir à morte dos seu homens.
Então o pirata de barba vermelha falou:
- Quero ser o primeiro, e mais: proponho-lhe um acordo para melhorar o espectáculo, senhor burgomestre.
- Fala – ordenou Simon von Utrecht.
- Quero ser o primeiro. Quero ser decapitado de pé, e quero que, por cada passo que de depois de a minha cabeça ter tocado no solo, salve um dos meus homens.
Viva o Pirata do Elba!, gritou alguém do meio da multidão , e o burgomestre, certo de que era tudo fanfarronice aceitou.
A ciciante folha de aço cortou o ar da manhã, entrou pela nuca e saiu pelo queixo do pirata. A cabeça caiu sobe as pranchas da ponte e, perante a estupefacção de todos, o decapitado deu doze passos antes de cair redondo.
Aconteceu isto numa manhã de Primavera do ano de 1400. Quase seiscentos anos mais tarde, na primeira semana de Julho deste ano, a polícia de Hamburgo deteve vários rapazes que tentavam pela centésima vez alterar o nome de uma rua. Lavavam uma compridas fitas adesivas azuis com letras brancas que diziam “Rua Klaus Störtebecker” e punham-nas a cobrir as placas metálicas com o nome do nada célebre burgomestre von Utrecht. Os meus filhos gostam desta história, e espero ainda contá-la um dia um dia aos meus netos, porque se é certo que a vida é breve e frágil, também é verdade que a dignidade e a coragem lhe conferem a vitalidade que nos faz suportar os seus enganos e desditas."
in Rosas de Atacama, de Luis Sepulveda

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Monumento ao Bombeiro em Almeida


Em baixo estão disponíveis duas hiperligações para os fóruns do escultor responsável pelo monumento ao Bombeiro em Almeida e autor também de outros obras que vão surgindo no nosso concelho.

http://eugeniomacedoescultor.blogspot.com/

http://sabugalquadrazaisfoios.blogspot.com/